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Análise: primeiras impressões de Āya to Majo (Aya e a Bruxa), o primeiro anime em CG do Studio Ghibli

Nessa análise, recheada de spoilers, matamos a curiosidade sobre Aya e a Bruxa, a mais nova produção do Studio Ghibli, que foi ao ar no dia 30. na NHK

Análise: primeiras impressões de Āya to Majo (Aya e a Bruxa), o primeiro anime em CG do Studio Ghibli
Desbravando o Japão

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A animação em 3D アーヤと魔女Āya to Majo (Earwig and the Witch – sem tradução ainda no Brasil, mas podemos considerar como Aya e a Bruxa em tradução livre), foi exibido no dia 30 de dezembro, na tv aberta japonesa e recebeu uma análise do Sora News, onde todo mundo que não pôde assistir o filme na NHK, vai ler esse artigo dizendo que há muitos spoilers. Na verdade, toda história está misturada com a crítica, então, se você for além daqui, não diga que não foi avisado!

O filme começa com um visual ousado. Vemos uma mulher montada em uma motocicleta, seu cabelo ruivo crespo e espesso balançando ao vento, enquanto ela se move pela estrada. Mas o que torna a cena especialmente marcante para fãs de anime de longa data não é a moto ou seu piloto, mas o carro que os persegue: um Citroën 2CV, que por acaso é o carro do cofundador do Studio Ghibli, Hayao Miyazaki na vida real.

Não é exatamente o mesmo ano e modelo do Citroën de Miyazaki (a grade é ligeiramente diferente), mas a metáfora parece clara. A mulher torce o pulso, acelera e a moto sai em disparada, deixando o Citroën (cuja placa começa com MYZ) para trás enquanto estabelece seu próprio curso, assim como o abraço da animação em CG é um afastamento do Studio Ghibli do compromisso tradicional com métodos desenhados à mão.

O interesse aumenta sempre que o Studio Ghibli anuncia um novo projeto, mas as expectativas do público para Aya e a Bruxa não era as mesmas. Para começar, o Studio Ghibli conquistou o amor de muitos fãs ao assumir uma postura anti-CG, mesmo quando o CG se tornou o formato padrão para filmes de animação no resto do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=e6HZWCYNNIs

Aya e a Bruxa é dirigido por Goro Miyazaki cuja animação Contos de Terramar é quase universalmente considerado o filme de Ghibli mais fraco. Acrescente que Aya e a Bruxa é um filme de anime feito para a TV (transmitido em um único bloco na emissora pública japonesa NHK) em vez de um lançamento no cinema no meio do verão, e muitas pessoas estavam mantendo suas expectativas sobre Aya e a Bruxa sob controle. Agora que a animação foi ao ar, parece que isso foi uma coisa boa.

Visual

Na verdade, este é um dos elementos mais fortes de Aya e a Bruxa. As produções japonesas totalmente em CG não têm boa reputação, muitas vezes devido às tentativas de encaixar à força elementos pseudo-desenhados à mão no movimento dos personagens. Isso não é realmente um problema aqui.

Aya se move suave e expressivamente, e seu rosto exibe uma grande variedade de emoções. Os outros personagens também são atores reais, seja a bruxa Bella Yagga, altiva, corpulenta, misteriosa, possivelmente demoníaca, arqueando os ombros enquanto luta para manter sua ira sob controle, ou o resto do elenco de apoio se emocionando, cada um à sua maneira

Os “efeitos especiais”, por assim dizer, como nos estalos da energia mágica ou nos agitos de uma massa de minhocas, também se movem de uma forma que evoca a atenção que Ghibli dá aos detalhes de sonho.

A equipe de arte da animação também prova ser impressionantemente hábil em renderizar uma vegetação exuberante, já que os gramados do orfanato e a vegetação semelhante a uma selva do quintal de Bella Yagga, trazem à mente filmes anteriores de Ghibli em sua abundância de cor e cuidado.

Alguns ambientes internos não têm a desordem e a coragem de seus primos desenhados à mão (a cozinha de Bella Yagga, por exemplo, não parece tão real quanto a de Shizuku de O Sussuro do Coração), mas é possível que isso seja para criar um contraste extremamente eficaz pela primeira vez que Aya põe os pés lá dentro.

A oficina de poções de Bella Yagga está coberta de fuligem e transbordando de todos os tipos de caldeirões, frascos e recipientes de ingredientes mágicos, gotejando uma mistura de curiosidade e apreensão que as heroínas Ghibli costumam sentir.

Os valores de produção nunca são tão luxuosos quanto um lançamento em CG da Pixar ou Disney, mas a animação parece boa praticamente do início ao fim, sem modelos distorcidos ou movimentos bruscos (embora as representações de comida sejam apenas normais e não no nível de dar água na boca, algo que os fãs esperam de um anime Ghibli).

A história

Quando conhecemos Aya, ela foi deixada em um orfanato ainda bebê, com apenas uma fita cassete e um bilhete de sua mãe, dizendo que ela está fugindo das “12 bruxas” e que um dia, talvez anos no futuro, ela voltará para pegar sua filha. Em seguida, pulamos 10 anos para ver Aya como um espírito livre e feliz que de repente é adotado por Bella Yagga. Mal Aya põe os pés em sua nova casa, Bella Yagga revela que ela é uma bruxa que só adotou Aya porque ela queria uma assistente, não uma filha.

A partir daí, as coisas se tornam um padrão. Todos os dias, Bella Yagga força Aya a trabalhar como sua assistente, esfolar cobras, colher ervas e fazer várias outras tarefas nojentas ou servis. Aya começa cada dia com uma atitude corajosa, trabalhando duro na esperança de que Bella Yagga a ensine a ser uma bruxa também, apenas para Bella Yagga reclamar de que ela não está trabalhando rápido o suficiente, com Mandrake aparecendo de vez em quando para fazer algo misterioso.

Para crédito de Aya, a dinâmica é, no começo, interessante e agradável. Aya não desmorona sob os fardos colocados sobre ela, nem sacrifica seu próprio bem-estar para tentar agradar a desagradável Bella Yagga, e é revigorante como a história nunca a trata como uma vítima indefesa ou mártir altruísta. Mandrake e Bella Yagga também são eventualmente mostrados como personagens mais complexos do que parecem ser.

Mas enquanto Aya demora para estabelecer esses relacionamentos, o tempo está passando. Com uma hora e 22 minutos de duração, não há muito tempo para perder, mas se perde tempo. Recebemos uma explicação vaga e parcial para a fita cassete que foi deixada com Aya quando bebê, com a pessoa informando explicitamente que não vai explicar mais antes de arrastar Aya para fora da sala. Aya e Bella Yagga vivenciam exatamente uma mudança significativa em seu relacionamento e, no momento exato em que Aya parece estar pronta para chegar à essência de sua história, os créditos sobem.

A crítica

Não estou exagerando. Eu assisti Aya com minha esposa assim que foi ao ar, e quando os créditos começaram, ela se virou para mim e disse: “Eu estou ansiosa para saber mais no episódio da próxima semana”. Ela literalmente pensou que este era um piloto estendido para uma série de TV e honestamente é isso que parece, não em termos de qualidade visual, mas em história e personagens.

Quase não existem grandes desenvolvimentos de trama para falar. Você quer saber mais sobre as 12 bruxas? Parece que você vai ter que ler o livro, porque o anime não diz nada além de que eles existem. E claro, Aya é simpática e o resto do elenco divertido também, mas os personagens são estáticos durante quase toda a animação, com uma passada rápida e confusa de quem alguns deles costumavam ser e uma pequena dica de quem eles poderiam se tornar antes de dizermos adeus a eles para sempre.

Os fãs do Studio Ghibli que ficaram desapontados com Contos de Terramar e Da Colina Kokuriko podem se apressar em colocar a culpa inteiramente em Goro Miyazaki, mas Hayao Miyazaki e o cofundador do Studio Ghibli, Toshio Suzuki, atuaram como produtores na animação.

No final, por mais controversa que tenha sido a decisão de usar todo o CG para Aya e a Bruxa, os visuais realmente são a parte mais suave (e a trilha sonora cativante também não é nada ruim). No mínimo, Aya e a Bruxa mostra que, se quiser, o Studio Ghibli pode fazer um anime em CG bom e ainda se parecer com o Studio Ghibli, mantendo a sua essência. Voltando à cena de abertura, o Studio Ghibli pode, se quiser, se afastar de seu passado e mudar definitivamente.

3 comentários

Ana

Ja faz um tempo desde o lançamento e assisti agora mesmo a animação. A história é incrível, os personagens e cenários ainda tem a essência do Studio Ghibli, ainda assim achei faltava algo a mais… O fim com gostinho de quero mais é de matar, eu adorei como foi contatada a história e como seguiu o curso mas me deixa frustada e chateada não ter uma continuação. Se fosse uma série animada eu com certeza assistiria quantos episódios fossem. Não acho que foi a pior animação do Studio Ghibli como ouvi falar, mas também não acho a melhor. Com certeza posso dizer que é promissor e muito mal incompreendido. É tipo a ovelha negra da família, que a gente se apaixona assim que conhece um pouco mais. Já quero comprar o livro para ler.

Bibiela Tapas

A meses esperei em choque pelo longa metragem de um dos melhores estúdios de animação que eu já conheci, pesquisei tudo sobre como seria, qual sua história e tenho que ser sincera ao dizer que ao saber que seria em estilo CG eu fiquei decepcionada, pois tenho certeza que assim como eu, outros fãs se apaixonaram incondicionalmente pela estética e animação tão caracteristicamente original, então obviamente a decepção falou alto, mas ainda estava com grande expectativa que seria igualmente mágico como outra bruxinha das telas do estúdio (O Serviço de Entregas da Kiki). Infelizmente não chegou tão perto quanto eu gostaria.
Tenho que ser sincera em dizer que o estilo CG não fugiu tanto quanto pensei da característica familiar do Studio Ghibli, os efeitos visuais e paisagens eram lindo e efeitos especiais eram chamativos, brilhantes e quase palpáveis, mas não ainda não consigo digerir o jeito como o andamento foi contado, deixando o grande “Tchan” no final do último tempo. Foi como se eles jogassem o livro na nossa cara e nos obrigassem a ler para saber qual realmente é o final dessa história. Mesmo assim me conformei e tentei ver o lado sensato ou aceitável da questão do final.
Goro Miyazaki já havia mostrado que sua real profissão, como consta no google ao pesquisar o nome dele, é paisagista, e realmente é bem claro, pois tanto em sua primeira estreia (Contos de Terramar) como em “Aya e a Bruxa” há uma importância maior na paisagem do que na história em si. Ambos os dois filmes tem um começo, quase nada explicativo, um meio confuso, pacato e indagante, e nenhum final concreto. Não que seja de todo ruim, mas a impressão que passa, é que estamos vendo a continuação de uma saga cinematográfica do qual não fizeram ou esqueceram de fazer o último filme.
Não se sabe se isso é um estilo do Goro pra que o público tente ou imagine o final, não se sabe se ele também não liga pra isso kkkkk, ou se isso é algum tipo de arte expressionista do qual talvez só o Goro entenda.
Enfim, talvez eu tenha me empolgado kkk, mas tudo que os dois filmes me lembram é a famosa frase “O que importa não é o destino, mas a viagem” e que viagem em Goro kkkkk.

Talita cm

Boa tarde.
Acabei de assistir tamanha animação com meu namorado. Gostei e até dei risadas, foi bem criativo e interessante as vistas. Porém, quando pensei que ficaria mais interessante, quando as dúvidas que pensei seria sanadas (12 bruxas, se vai saber que ela é uma, a mãe dela etc..) o filme simplesmente acaba deixando algo vago, de uma maneira insana, como se fosse um seriado.
Achei um desrespeito com o público esse final. Me senti perdendo meu tempo. Tinha tudo para ser um super sucesso!

Obrigada

Att. Talita

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