Hoje saí com meu filho para uma caminhada perto de casa, à procura de um local tranquilo pra ele correr e gastar as energias.
Como ele é uma criança especial, lugares isolados normalmente tem sido minha escolha em tempos mais recentes, uma por causa da pandemia, outra pelo motivo de evitar gente que nem sempre entende o que é uma criança especial.
Não vou entrar no âmago dessa questão agora, mas é isso mesmo que vocês leram, evitar gente.
Bem, aqui no Japão é bem comum encontrar praças bastante arborizadas e completamente vazias em determinados dias da semana.
Tinha um lugar que eu sempre passava de carro mas nunca cheguei parar para observar mais de perto.
Sempre pensei que fosse um koen (praça), e então decidi ir lá. Para minha surpresa não era uma praça e sim um cemitério.
A paz de um cemitério
Esse local foi ampliado e reformado recentemente, tudo novinho, com um espaço considerável de estacionamento e novos terrenos para abrigar novas lápides, das cinzas dos futuros falecidos.
Fiquei observando esse local, completamente ermo e silencioso, dava para escutar um pequeno córrego na parte do fundo do cemitério, que ficava a uns 400 metros de onde estávamos, e o som da brisa batendo nas folhas das árvores.
O tempo estava ameno e um pouco nublado, senti algumas gotas de água no meu braço, o que seria um prenúncio de uma chuva que acabou não se concretizando.
Enquanto meu filho se esbaldava de correr naquele local isolado, fiquei observando aquelas lápides bonitas, possivelmente muito caras, com os nomes das pessoas falecidas, tentando decifrar os kanji escritos nelas e seus significados.
Eu sempre observo kanji de nomes, muitas vezes a pronúncia é diferente para mesmos significados ou o contrário, significados diferentes para uma mesma pronúncia.
A reflexão do cemitério
Nesse momento, lembrei de um texto da bíblia que diz: “Com o suor do teu rosto comerás o teu pão, até que voltes ao solo, pois da terra foste formado; porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!”. E aqui no Japão, virá pó rapidinho, ou melhor, cinzas.
Vejo pessoas brigando e se matando por poder, por política, por ideologia, por dinheiro ou por puro ego e orgulho.
Gente que se acha melhor do que os outros, pois conseguiu algum bem material ou mesmo uma carreira de sucesso.
Gente procurando isso a todo custo, deixando pra trás princípios, família e deixando de cuidar do seu próprio espírito.
Gente que só sabe olhar para o próprio umbigo, se acha o centro do universo porque tem alguma influência e faz sucesso na internet por causa de um corpo malhado, mas esquece que está sentado em um trono de pó.
Me incluo nessa reflexão também, às vezes acho que tenho tudo quando na verdade, não tenho nada.
Em tempos de pandemia, temos visto muito isso, gente que esqueceu de cuidar do próprio espírito e esqueceu de ver que no placar, estamos tomando de goleada desse microscópico bichinho.
Esse pequeno passeio a esse cemitério no Japão me fez lembrar que estamos apenas de passagem por aqui, e que cada minuto, cada segundo, existe um valor inserido inestimável e incalculável.
É uma luta constante, é matar um leão por dia mesmo. Voltei para casa com um sentimento estranho, mas ao mesmo tempo sereno, de poder refletir um pouco sobre o que realmente importa nessa vida. Gratidão sempre!
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